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Eu escrevi esta a carta a mão mesmo, queria enviar por correio e até colocar aquele perfume meu que você sempre gostou para dar mais paixão à minha saudade.
Você sabe que eu sempre achei que a internet e a digitalização do sentimento tirava o encanto das coisas, eu sempre disse a você que eu gostaria de viver em outra época, e um dos motivos era esse, poder sentir a pessoa ao tocar a folha de uma carta, aguardar ansiosa a resposta que viria somente dias depois, me entusiasmar com um simples gesto de atenção como um bilhete ou um telefonema, hoje bilhetes viraram sms e telefonemas são infinitos, o que banaliza qualquer possibilidade de torná-los especiais,
Talvez os amores duravam tanto antigamente, justamente pela demora, o atraso, os desencontros, que eram grandes mas faziam apenas com que o amor crescesse e se solidificasse, não havia tempo para amar duas pessoas ao mesmo tempo, pois quando se apaixonavam os amantes tinham de aproveitar cada minuto, cada artifício, que tinham, pois a família a distância e a moralidade da época os impediam de sair por aí colecionando amores, como acontece hoje.
Mas eu escrevi uma carta não somente por isso, escrevi pois gostaria de dizer, "Me perdoa", ou quem sabe " Volta para mim", uma dessas frases clichê que todos dizem quando sentem falta de alguém, resolvi escrever pois também sou clichê... mas você nunca a lerá.
Gostaria de ter nascido à 100 anos atrás, e ter vivido um amor como o nosso naquela época, gostaria de ter enviado aquela carta e ter recebido como resposta a sua mão batendo em minha porta, com uma rosa em uma mão e um poema em outra, e que isso fosse talvez um pedido, mas especialmente uma declaração, pura e sincera de amor. Gostaria de ter visto as coisas chegarem ao ponto em que está, onde enviar uma carta de amor por correio se tornou uma coisa ridícula, ao passo que atualizar o status de relacionamento, semanalmente, em uma rede social, se torna corriqueiro. Talvez eu intendesse as mudanças se as tivesse visto acontecendo, talvez eu tivesse coragem de enviar aquela carta, que eu te escrevi mas você nunca leu.
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